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Responsabilidade planetária do Homo sapiens sapiens
Nós, seres humanos, somos classificados como Homo sapiens sapiens, que, traduzindo do latim, seria o homem com sabedoria. Essa designação é merecida e, ao mesmo tempo, um carma que carregamos, já que os custos do nosso desenvolvimento intelectual são muito altos, pois, ao mesmo tempo que a psique evolui, ocorre o acúmulo de conhecimento, que se reverte nas ciências e nas tecnologias; como consequência, passamos a consumir mais os recursos naturais do planeta, para alimentar assim nosso modo de vida e tudo aquilo que utilizamos para manter a nossa “qualidade de vida”. Tais processos de exploração da natureza nos levaram ao ponto de comprometer a vida neste estimado planeta (CÓRDULA, 2012a).
Cadê as bonecas negras?
Faz uns dias que ando à procura de uma boneca negra para dar à minha filha. Semana retrasada fui a uma famosa loja de brinquedos no Centro do Rio e perguntei se tinha alguma boneca dessas para vender. A vendedora me olhou como se eu estivesse querendo comprar um extraterrestre de três pernas. Ou como se eu fosse uma ativista remanescente do grupo Panteras Negras. Passado o espanto, veio a resposta esperada: não tinha. A loja era grande e repleta de bonecas, perguntei se realmente não havia pelo menos uma no meio daquelas centenas. Depois de muito procurar, mostrou-me uma imitação de Barbie, só que morena de olhos verdes e com cabelos negros e ondulados. Os cabelos eram, na verdade, uma peruca que poderia ser trocada por outra loira, ruiva, castanha. Não era bem isso. Queria uma boneca negra – e não uma morena de olhos verdes. Quando passei pela seção das bonecas princesas da Disney vi que estavam quase todas lá: Cinderela, Bela Adormecida, Ariel, Bela (da Bela e a Fera), Branca de Neve... Perguntei se tinha a Tiana, a protagonista negra do desenho A princesa e o sapo. Já a tinha visto na vitrine de uma loja em um shopping na Zona Sul: ela existia. Mas não naquela loja. Aliás, nem ela nem a Jasmine (a princesa do Aladdin, moradora de Agrabah, uma cidade fictícia localizada em algum país do Oriente Médio). A essa altura, senti um certo constrangimento por parte da vendedora, que se apressou em dizer que a Tiana já tinha estado por lá, mas assim que chegava se esgotava, daí a sua ausência nas prateleiras. Se a demanda era tão forte assim, por que não encomendavam em maior quantidade? Ela deu um risinho sem graça e não soube responder. Dirigi-me ao gerente para lhe dar essa ótima dica mercadológica: encomendar mais bonecas da Tiana ao fornecedor, já que ela “sai muito”. Ele, sem muita empolgação, disse que iria fazê-lo.
Democracia: um risco necessário
Walt Whitman, o profeta das modernas ordens democráticas, poetizou um dia: “resisto melhor a tudo que não seja minha própria diversidade”.
Uma narrativa histórica saborosa
Não é novidade que, de maneira geral, conhecemos pouco da história da América Latina – não só da história como da cultura, da música, da culinária (exceto o churrasco)...
Cidade surda
Como se fosse um Godzilla, o Rio de Janeiro cresceu mais do que devia. É uma metrópole metida em um corpinho de província, e isso causa certo desconforto. Aliás, vários desconfortos. Para mim, um dos maiores incômodos de viver no Rio são os barulhos que a cidade gera. São milhões de pessoas querendo ouvir música, querendo se comunicar, propagandear alguma ideia ou algum produto, vender o seu peixe. Quem já foi à feira sabe como um vendedor de peixe faz barulho, e é justamente por isso que eu me incomodo: os decibéis da cidade são inversamente proporcionais ao nosso direito de tranquilidade.
O projeto político-pedagógico e a igualdade de condições para acesso e permanência na escola
Este trabalho tem por objetivo apresentar uma síntese reflexiva do processo de construção de um texto coletivo, proposto pelo Curso de Extensão da Fundação Cecierj, na área de Prática Docente/Cognição. A produção do texto ocorreu por meio da ferramenta Wiki, um software colaborativo, que permite a edição de textos por diversos usuários, disponibilizado na página do curso, utilizando a plataforma Moodle. Na disciplina discutiram-se, de modo geral, questões pertinentes ao papel do docente na organização escolar, focando especialmente a perspectiva da gestão democrática. A elaboração de um projeto político-pedagógico (PPP) assumiu lugar de destaque nos fóruns de discussão e no próprio Wiki e buscou-se compreender os seus significados, a sua importância para os espaços escolares, concomitantemente às reflexões sobre alguns de seus pressupostos básicos: a valorização da classe docente, a qualidade dos serviços oferecidos e a igualdade de condições de acesso, tema abordado pelo grupo.
Evolução criativa
O constante desequilíbrio advindo do confronto entre a Biologia e o meio ambiente é a mola que impulsiona a continuidade e o aperfeiçoamento das espécies sobre o planeta Terra. A aparente estabilidade que encobre as lentas modificações sofridas desde a existência da primeira célula primitiva é apenas uma ilusão acerca do equilíbrio tão amplamente desejado pelo ser humano, que sempre almejou se sentir seguro ante o caos que verdadeiramente é a vida, das transformações geológicas às mutações genéticas impostas pelo tempo e a sobrevivência biológica. Contudo, mesmo que tal véu tente encobrir a realidade por meio do autoengano, nada detém a essencial marcha da vida, que é capaz de proporcionar novos caminhos a cada obstáculo que surge na vasta caminhada evolutiva.
Professor confessor
Não sei se sou eu, sei se é meu jeito, signo, a forma como leciono ou se acontece com todos os professores: o que eu sei é que, vira e mexe, um ou outro aluno arruma uma maneira de, ao final da aula, me pegar de surpresa e fazer alguma revelação bombástica a respeito de suas vidas. Com grande parte deles tenho boa relação, mas nada excepcional. Acho que o que facilita esse diálogo deve-se à disciplina que ministro: Filosofia, pois muitas vezes abordamos questões relacionadas a ética, preconceito e liberdade, mesmo tendo pouquíssimo tempo com eles por semana (dois tempos para o terceiro ano e para o primeiro e segundo ano o horário foi reduzido para exíguos 50 minutos semanais, ou seja, até para fazer a chamada é complicado). O fato é que, somente neste último bimestre, três alunas que me pegaram como confessora: uma adolescente grávida e duas vítimas de preconceito por causa de suas opções sexuais.
Escolas religiosas: Deus seria a explicação até para o que se aprende nos livros?
Ao ouvir falar em escola religiosa, você já se perguntou o que um segmento tem a ver com o outro? Por que a escola precisa ter ligação com a crença religiosa? E mais: por que até hoje as instituições de ensino cuja metodologia está ligada a alguma religião são tidas como as mais sérias, rigorosas e até mesmo de melhor educação para crianças e adolescentes?
Grandes narrativas - por que sua morte não aconteceu
Em seu tratado sobre o sentimento do sublime, Longino, guiado pela questão do estilo, adverte: “todos que visam à grandeza, para fugir da fraqueza e da aridez, precipitam-se no vício do inchaço”. Esse conselho de quase dois mil anos encaixa-se perfeitamente nos preceitos da literatura dita pós-moderna, em que todo vício de enriquecer a narrativa é condenado. Ao contrário, a narrativa aparece quase sempre errante, árida, débil em relação a qualquer tentativa de definições. E, como seu professor de fé, o filósofo francês Jean-François Lyotard condena a narrativa que prega verdades. Para Lyotard, a realidade e a definição de uma identidade são inalcançáveis, e por isso o que ele chama de “grandes narrativas” ou “metanarrativas” estariam fadadas ao desaparecimento.