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Claudio Willer
Os poemas e os comentários que aqui vão foram publicados há 42 anos, pela Massao Ohno, editora de São Paulo que desempenhou papel renovador ao privilegiar a poesia e a beleza em suas edições. Anotações para um apocalipse de Claudio Willer, é uma brochura simples (56 páginas no formato 17,5 cm por 12,5 cm) e um livro complexo, um soco no cérebro, uma pancada daquelas que remexe tudo que organizamos, se não for repelida por um sólido elmo dotado de viseira inexpugnável. Composto por Anotações para um apocalipse — poemas e As fronteiras e dimensões do grito — manifesto, tem uma unidade indissolúvel. Também a introdução de Roberto Piva manifesta a mesma essência libertária que as palavras de Willer.
Desigualdade ou emancipação?
Partindo de uma experiência insólita em sua longa carreira de pedagogo, Joseph Jacotot, professor francês do início do século XIX, apercebeu-se de que o processo de aprendizagem pode não consistir naquilo em que o senso comum e a teoria então vigente (e vigente até hoje, temos que reconhecer) haviam consagrado. O que Rancière denomina “aventura intelectual” aconteceu-lhe quando, exilado por motivos políticos nos Países-Baixos, Jacotot ocupava o posto de leitor de literatura francesa em meio período. Ignorando o holandês, o mestre não teria como responder às dúvidas de seus alunos sem que alguma coisa em comum o ligasse a eles como canal de comunicação eficiente o bastante. Esse canal se apresentou sob a forma de um livro – o Telêmaco, em edição bilíngue publicada em Bruxelas. Por meio de um intérprete, ele indicou o livro aos estudantes, recomendando que aprendessem, com o auxílio da tradução, o texto francês.
Cortázar e o texto político
Como autoexilado em Paris e observador da sociedade argentina em particular e da latino-americana em geral, Julio Cortázar desenvolveu um meio próprio de escrever politicamente. Desde a primeira publicação de seus contos, no livro Bestiário (1951), ele já demonstrava sofrer influência da literatura fantástica e extravasar pela escrita sua visão particular do mundo, ao mesmo tempo que declarava suas posições socialistas. Sem fazer política panfletária, pelo menos em textos ficcionais, o argentino nascido em Bruxelas conseguia denunciar ao resto do mundo as desigualdades e atrocidades acontecidas na América Latina, mas também anunciava as esperanças revolucionárias que surgiam.
Pantomimas da expressão e a moderna mirada de Argan
Argan, G. C. Arte Moderna
Gianni Rodari e a fantasia da gramática
Novalis, Fragmentos
A MODERNIDADE E A QUESTÃO SOBRE O SENTIDO DE CULTURA
A modernidade, numa tentativa de definir a sua própria identidade, teve como procedimento a tentativa de retorno às origens. O que é afinal a modernidade? A necessidade de responder a essa pergunta fez com que o retorno aos antigos assumisse tendências valorativas que não podem ser afastadas de características que os próprios modernos já evidenciavam, pois, ao considerar os antigos como um brilhante momento perdido da humanidade, buscava-se alguma característica essencial do homem que, de certa forma, não estava mais presente. A nostalgia desse retorno aponta para a modernidade teimosa do procedimento: resgatar o homem então perdido, trazê-lo de volta a si mesmo, pressupondo-se que seria de fato possível todo esse poder deliberativo, pois o homem já estava então sendo visto a partir de outros fundamentos e poderes: ele pode educar-se e, assim, transformar-se no que ele deve ser.
Quando o "Ensaio sobre a cegueira" torna-se factual
Escrever muitas vezes é uma urgência. Senti-me com a urgência de escrever sobre um assunto recente. Não sei o quanto o assunto poderá não ser dos mais agradáveis. Mas, diga-se de passagem, de coisas fáceis e agradáveis a mídia brasileira e a mundial andam atoladas até o pescoço. Mas existem coisas de uma urgência tão repentina que aproveitar um espaço para publicação torna-se quase uma obrigação, se por obrigação entendermos um velho exercício de cidadania. Então sigamos. Sigamos sem nos perder, sigamos sem nos esquecer. Principalmente do verbo esquecer e do seu vário campo semântico. Esquecíamos uma caneta, esquecíamos a bicicleta, também esquecíamos uma ou outra data de prova de uma matéria não muito amada. Esquece-se o guarda-chuva, esquece-se o celular. Mas não esquecíamos um filho recém-nascido em nosso carro. Até porque o ar-condicionado era coisa de carro luxuoso demais e porque os vidros não recebiam essa película que mais esconde do que revela (incluam-se, também, ladrões, marginais, políticos corruptos etc. etc.). Mas esquecer pequenos seres humanos, minúsculos serezinhos, isso não era comum. E aí a inevitável pergunta de quem ainda acredita no poder, a esta altura quase mítico, da massa cinzenta: o que está acontecendo com as pessoas? Por que, lembrando o atualíssimo Ensaio sobre a cegueira, uma mãe cegou e não conseguiu ver que seu filho, tão recente neste cada vez mais estranho planeta, estava no mesmo objeto (automóvel, no caso), partilhando da mesma existência daqueles trágicos instantes? Há algo de estranho demais no homem contemporâneo. Parece-me, quero acreditar nisso, que estamos derramando pelas paredes de nossos HDs mentais uma quantidade infinita de informações (vitais, aqui no caso) que não pode ser compactada nos mesmos programas e arquivos de outras informações (trabalhar, apagar a luz, girar a chave do carro, escovar os dentes, pagar o porteiro e tudo que o leitor quiser acrescentar). A vida contemporânea não está cabendo na forma contemporânea de viver. Tragédia para uma mãe, sem dúvida alguma. E que tragédia! E tragédia para todos nós, pois quem será a próxima vítima de um modelo de vida que nos vitima de uma maneira ou de outra? Parece que essa vida está com os dias contados. Só gostaria que essa vida falida não se vingasse contando os nossos dias até uma próxima tragédia. Sejamos contemporâneos... mas sem nos esquecer da cegueira. Ou os ensaios tornar-se-ão mais do que livros e filmes.
50 anos de travessuras e brasilidade
Qual brasileiro não conhece, ou pelo menos não viu ou ouviu falar da Mônica, Cebolinha, Cascão ou Magali? Ou do Jotalhão, do Horácio ou do Chico Bento?
"O Brasil não é para principiantes" (Tom Jobim)
A Revolução Industrial de 1760 surgira com o advento do capitalismo industrial, expandindo o desenvolvimento material e a destruição maior, mais acelerada da natureza. O colapso das economias asiáticas, o fenômeno da globalização do comércio, a redução dos comerciantes de bens e dos intermediários, o sucesso da nova tecnologia extrativa têm se multiplicado de maneira assustadora. O novidadeiro capital natural, fruto de uma melhor ambiencia do homem com a mãe natureza, permitiu que se mudassem os conceitos sobre a vida humana. Tudo agora passou a depender da economia da civilização. Descobriu-se então, o alerta: o meio ambiente estava ficando adoentado.
BioDiversitas
O mapa demográfico do Brasil tem uma faixa escura demarcando a zona litorânea, principalmente do Sudeste e Nordeste. O resto do país está quase todo marcado por cores claras, significando que mais da metade da população dá as costas para o Estado-continente em que vivemos. Acontece que nessa área mais rarefeita de gente se concentra uma diversidade de fauna e flora tão rica que, durante o período de férias, muitos dos moradores das grandes cidades litorâneas se viram para o interior do país, curiosos para conhecer ou nostálgicos de rever florestas, rios e animais que não podem encontrar em suas vidas cotidianas. É justamente nesse período que a falta de consciência ambiental é demonstrada da forma mais comum, a ignorância: superlotação de pousadas, acampamentos mal organizados, uso indevido da água, despejo descontrolado de lixo e a compreensível vontade do visitante de se integrar ao ambiente sem se dar conta de que aquele ambiente não estava preparado para tal integração – são várias as causas e maiores ainda as consequências da devastadora ação humana em ambientes ainda naturalmente preservados, mas a ignorância ainda é uma das principais razões.